A Colonização Alemã no Sul do Brasil encerra o ciclo de palestras da Semana Cultural

por AssCom última modificação 31/08/2015 11h28
A palestra foi ministrada pelo professor Rodrigo Trespach, que veio exclusivamente do Rio Grande do Sul para participar do evento.
A Semana Cultural realizada nas dependências da Câmara Municipal chegou ao fim no último dia 11, sexta-feira, com a palestra "A Colonização Alemã no Sul do Brasil", ministrada pelo Doutor Rodrigo Trespach, que veio do Rio Grande do Sul exclusivamente para participar do evento.Rodrigo 2

O professor utilizou uma abordagem histórica ao apresentar um relato aos presentes sobre a chegada dos imigrantes alemães no sul de nosso país entre 1824 e 1830, caracterizando a primeira corrente migratória que se estabeleceu nesta região do Brasil.

No final do século XVIII, com a Revolução Francesa de 1789, Napoleão Bonaparte assumia o Império francês com o golpe do dezoito brumário. A partir daí, o Imperador inicia um processo de expansão começando a conquistar os países vizinhos a França. A Alemanha na época não era um estado centralizado como hoje, ou seja, era formado por pequenos estados, que iam sendo conquistados pouco a pouco pelo Imperador.

O grande inimigo de Napoleão era a Inglaterra, e na tentativa de fazer com que o país cedesse ao seu Império, ele estabelece um tipo de bloqueio continental, proibindo todo continente europeu de negociar com o país britânico.

Rodrigo 3Como a Inglaterra era parceira de Portugal, Dom João VI, não aceitando a determinação de Napoleão, pede ajuda a Inglaterra e foge para o Brasil em 1808. Esse foi o período em que o Brasil começava a engatinhar como país, porque a chegada de Dom João VI trouxe também a construção de escolas e estradas que não existiam, além de todo um aparato português para colônia.

Seu filho Dom Pedro I, que posteriormente se casaria com uma princesa austríaca, a futura Imperatriz Leopoldina. antes da independência em 1822, envia a Europa um agente chamado Major Von Shofar, responsável por angariar colonos e soldados alemães para o Brasil.

A Alemanha era fragmentada em ducados, reinados e principados e depois do Congresso de Viena em 1815, quando Napoleão é derrotada, esses pequenos estados vão se unir para formar uma confederação alemã. Em decorrência do grande estrago provocado por Napoleão na Europa, um grande número de pessoas imigraram para os Estados Unidos e outra parcela para o Brasil. Os territórios devastados, as condições climáticas, a Revolução Industrial que provocava desemprego de muitas pessoas, foram fatores determinantes para o início do processo de imigração.Rodrigo 4

Em aproximadamente dois séculos a Europa permitiu a saída de quarenta milhões de pessoas. Deste total, dez milhões eram alemães, a maioria seguindo para os Estados Unidos, o equivalente a cinco milhões, e outros trezentos e setenta mil vindo ao Brasil.

A vinda da família Real começa a promover uma modificação no que era uma colônia puramente de extrativismo dando ao Brasil um ar de país, onde se formam faculdades na Bahia e no Rio de janeiro, escolas, estradas e comunicação coisas que não existiam naquela época.

Um fato muito interessante é que quando Brasil se tornou independente, havia a necessidade de se ter um exército, caso houvesse a necessidade de lutar contra os portugueses. “As pessoas costumam achar que o Brasil se tornou independente sem guerras, que somos um país que não brigou pela independência. Isso não é verdade, pois o Brasil formou um exército com alemães e irlandeses e houveram sim alguns combates na Bahia e em Pernambuco com tropas leias a Portugal”, afirmou Rodrigo.

Rodrigo 5Foram formados quatro batalhões com soldados alemães, dois ficando no Rio de Janeiro os outros dois instalados no Rio Grande do Sul, com o objetivo de defender as fronteiras do país. Além da criação de um exército, Dom Pedro I também tinha em mente a criação de um minifúndio, que seria formado com a vinda de soldados colonos e artesãos.

A chegada dos alemães no sul do país trouxe consigo um grande impacto na comunidade local. De acordo com Rodrigo, a população existente na época composta de 10.000 habitantes recebeu em pouco menos de dois anos a metade deste número de pessoas. Essas pessoas permaneceram colônia de São Leopoldo, que foi a primeira colônia, fundada no ano de 1824 e outra que foi fundada em 1826 no litoral norte. Por conta da revolução industrial a Alemanha dispensa os colonos, agricultores, artesãos, e como o Brasil estava necessitando dessa mão de obra para formação do minifúndio, essas pessoas vem imigrar para o nosso país.

Da mesma forma, após a derrota de Napoleão na Europa, a presença de soldados não se fazia mais necessária por lá, e os mesmos também foram deslocados para o Brasil. Um fato interessante em meio à imigração foi que o governo solicitava que os alemães que viessem professassem a fé cristã. Como o Império brasileiro era oficialmente católico, não era permitido exteriorizar o credo protestante.Rodrigo 6

Os alemães que não tinham condições de pagar a passagem de vinda para o Brasil eram auxiliados pelo governo, mas se comprometiam estando em solo brasileiro servir quatro anos ao exército imperial. Dentre os benefícios que os alemães receberiam no Brasil se destacam os setenta e sete hectares de terra e a isenção de impostos por dez anos. Além disso, eles também tinham direito a subsídios mensais por dois anos até que fossem feitas as primeiras colheitas. O governo investiu muito no processo de formação nas colônias, dando aos imigrantes coisas como animais e até mesmo sementes para plantio.

Vale ressaltar que os alemães quando vieram ao Brasil não possuíam status algum de nobreza, muitos em situação de miséria e pobreza absoluta. Diversos membros de famílias não puderam acompanhar seus parentes por falta de recursos, sendo obrigados a permanecer na Alemanha. Além disso, foram muitos os casos em que se morreram crianças e adultos em azilos.

Muitas foram as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes na vinda para o Brasil, que viajaram em condições sub-humanas nos navios, trazendo um numero muito maior do que poderiam suportar. Aproximadamente trezentos e cinquenta colonos mais a tripulação do navio viajavam por setenta dias até chegarem ao Rio de Janeiro. Em decorrência da diferença do clima, alguns colonos morreram durante a viagem.

Rodrigo 7O professor afirmou ainda que os alemães que vieram para o Brasil não eram em sua totalidade luteranos, sendo alguns reformados ou calvinistas devido a existência de outras correntes que se desenvolviam na Alemanha.

Rodrigo também falou sobre um trabalho que atualmente vem sendo desenvolvido na cidade de Leopoldo, com o objetivo de resgate da língua alemã, perdida com o passar dos anos, além de proporcionar a preservação das construções de arquitetura germânica.

Dentre algumas curiosidades reveladas na palestra, foi citado o período pós 2ª guerra quando as pessoas eram impedidas de falarem o alemão. “Em minha família o idioma não foi passado para as gerações que se sucederam. Isto porque meu avô havia ficado traumatizado pelo risco de ser preso ao falar a língua. Mesmo as famílias passando a viver isoladas no interior da cidade, o medo fazia com que a língua alemã fosse aos poucos deixada de lado. Tudo aquilo que possuía referência a Alemanha era condenado na época. Certa vez uma parente minha foi presa simplesmente por ter em sua casa uma espécie de toalha que lembrava as cores da bandeira da Alemanha” disse.

Ao final da apresentação, o professor Rodrigo Trespach recebeu das mãos do vereador Ivan Luiz Paganini e do Coordenador da Semana Cultural, Joel Guilherme Velten, o certificado de personalidade cultural, em homenagem à sua brilhante participação no evento.


Fotos: Hudson Luiz Entringer.



Thagner Kuster
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